terça-feira, 16 de dezembro de 2008

De tanto ver triunfar as maldades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.

Rui Barbosa (1849-1923), jurisconsulto e estadista brasileiro

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

"Em redor do buraco tudo é beira."
Ariano Suassuna

domingo, 2 de novembro de 2008

A propósito...

é impressiomamte o malabarismo necessário

para explicar as sacanagens do sistema.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Oficina de Excelência da CPT Dramaturgia da Performance ministrada por João das Neves

Performance calorosa de João das Neves

O Encontro

Mestre. Essa palavra traz com clareza a conduta desse artista dentro da sala de trabalho. Precisão e delicadeza ao lidar com o corpo do intérprete. Observador/condutor do tempo-espaço, brincando como menino na fronteira do tempo-espaço real e o tempo-espaço ficcional. Divertido. Despojado. Na simplicidade característica de todo Mestre, João abre o processo de aprendizagem, abre questões aos aprendizes estimulando-os no exercício da reflexão estética, sempre estabelecendo uma relação horizontal, de igual para igual, de espírito criativo para espírito criativo com cada ser humano envolvido no trabalho.

O Trabalho

Da observação do andar do outro, tirar o pulso, batida, célula rítmica, e, a partir desta célula, criar um ‘caminhar’, um gestual, desenhar nas linhas do corpo esse ‘pulso’, esboçando um personagem, um corpo extra cotidiano. Pesquisar a interiorização desse ‘pulso’, a ponto de ser possível auscultar a célula no corpo do interprete, mesmo e inclusive quando este está imóvel. Trabalho bastante sofisticado, ferramenta bastante valioso que João nos traz com muita simplicidade e coloca o material ao alcance das mãos, ou melhor, do corpo. Condução de Mestre. Ir às camadas mais profundas como quem coloca os pés num lago, quente e calmo.

A Cena

Os Irmãos Dagobés. Conto de Guimarães Rosa. No velório do mais velho, dentre os quatro irmãos, toda a cidade se junta para velar o morto, tomar cachaça- queimada e falar muito, mas muito mal do falecido e maldizer os irmãos mais novos. A cena é contada a partir de fragmentos que o público vai tomando conhecimento ao ‘pé-de-ouvido’, cena silenciosa, pois estamos em um velório. Tínhamos como regra alguns códigos que acionavam uma espécie de gesto residual de cada personagem potencializado num susto, ora individual, ora coletivo.

Eduardo Bento
Cia. Teatro São Gonçalo

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Artigo 2

Olá a todos,

Quero, até mesmo para dar continuidade ao pensamento, abrir nosso MovimentoTeatroSantoAndré, assim tudo junto mesmo. Esse movimento pretende articular a demanda cultural que o próprio município gera, através de suas escolas de arte, tendo a frente a Escola Livre de Teatro de Santo André – ELT – e na cauda desse cometa a Escola Livre de Dança, Escola Livre de Cinema. Lembrando que esse movimento NÃO é das escolas e sim dos aprendizes que por elas passaram bem como outros artistas de escolas diferentes. A palavra LIVRE é articulada nesse contexto dentro de alguns parâmetros. Vou falar do processo dentro da Escola Livre de Teatro, processo do qual participei como aprendiz no Núcleo Formação do Ator com três anos de duração mais um ano de temporada (no caso de nossa turma Formação VI).

A palavra LIVRE, aqui na ELT , significa dentre outras coisas que:
. a escola não segue a grade curricular do MEC;
. aqui a pedagogia teatral se dá a partir da demanda de cada turma;
. aqui não há professores de teatro, mas artistas (atores, dramaturgos, diretores, preparadores corporais) que trazem na proposta pedagógica sua própria pesquisa estética, estabelecendo diálogo artístico entre mestre e aprendiz;
. aqui a aposta é em processos de pesquisa continuada, em teatro de grupo, coletivos artísticos, atores pesquisadores das artes cênicas.


A ELT, que existe há 16 anos é fruto da demanda do próprio município de Santo André. A classe teatral naquele momento, início dos anos 90, carecia de formação, de referencial, e precisava solucionar essa questão. Os artistas, com o apoio total de Celso Daniel (que Deus o tenha!) e o amparo de Celso Frateschi, Maria Thaís, Cacá Carvalho, Tichê Viana, Luis Alberto de Abreu, dentre outros, criaram a Escola Livre de Teatro. De lá pra cá, a ELT passou por altos e baixos, mas continua ai, linda e forte, e assim ela irá por séculos. Oxalá.

Passados esses 15 ou 16 anos, a demanda que a própria ELT gerou dentro do município é: hoje temos grupos e artistas gerados dentro do município, impossibilitados de darem continuidade em seus trabalhos, pois não temos nada sólido dentro de uma proposta de política cultural. Pensamos política cultural como estratégia de ação social. Grupos trabalhando suas pesquisas e suas propostas, com oficinas abertas à comunidade, e através dessas oficinas abrir o processo de criação artística, apoio na ocupação de espaços sociais,digamos, em processo de degradação e muitas outras ações que a partir dessas sugiram. Para isso é necessário além de investimento, VONTADE POLÍTICA. Vontade política de quem? Ora bolas, nossa, da classe artística. Se nós não fizermos Política, alguém fará por nós. Lembrando que cultura é dever do Estado e direito do Cidadão. Eugênio Barba em sua Antropologia Teatral nos aponta o teatro comercial (muito bem amparado pelo Estado através de leis de incentivo, aqui no Brasil, caso por exemplo do Circo de Soléi, ALEGRIAAAA, LÁ,LÁ, LÁ, LÁ, LÁ, LÁ, ALEGRIA) e quanta tristeza pra essa terra colonizada; depois temos o teatro mais acadêmico (também amparado por leis, muito bem articulado nas esferas de poder, com território muito bem demarcado por meia dúzia de pessoas fechados num NÚCLEO RÍGIDO) pena, pois perdem o vínculo com o mundo a sua volta, ou melhor, nem chegam a estabelecê-lo, ou alguém tem notícia na história acadêmica no Brasil, se em algum momento as instituições estiveram realmente voltadas para o bem comum do país?; e o Terceiro Teatro, o teatro feito na periferia do sistema cultural, sem amparo e/ou apelo comercial, muito menos acadêmico, mas que nem por isso, é um teatro sem pesquisa, sem qualidade, pelo contrário, por ser um teatro feito a partir do desejo, é pulsante, altamente criativo, comprometido e provocador. É desse terceiro Teatro do qual eu faço parte, portanto meu ponto de vista é a partir dele. Nasci as 9h da manhã do dia 16 de dezembro de 1968. Uma segunda-feira, primeiro dia útil depois do AI5, e hoje vivo sob a democracia burguesa.


Aí essa terra ainda vai cumprir seu ideal...

O MovimentoTeatroSantoAndré visa a articulação desse Terceiro Teatro e contamos também com a Comissão Municipal de Cultura, organização da sociedade civil, composta pela classe teatral,sem vínculo partidário mas compromissada politicamente e amorosamente na feitura de uma Política Cultural abrangente, coerente, que traga em seu bojo a contra-partida social, atenda dignamente a demanda artística, e que fomente a riqueza do bem imaterial, da reflexão livre, da construção do imaginário do homem do nosso tempo-espaço. Quem sabe assim, daqui mais alguns anos, não teremos em Santo André uma plataforma sólida de pesquisa artística, uma usina de criação autônoma, gerando trabalho, abrindo caminhos e possibilidades que só a Arte aliada ao Tempo poderá nos dizer. E assim também pode ser em Limeira, Amparo, Cotia, Sertãozinho, Xique-Xique...mas é preciso mobilização e Vontade Política. E é possível. É urgente!

Merda.

Eduardo Bento

Cia. Teatro São Gonçalo

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

TEATRO E O BRASIL: QUE TEATRO É ESSE?

Desde sempre, ou quase sempre, nosso referencial foi o imaginário além-mar, o velho mundo (e tem gente que acha o máximo saber “tudo” sobre teatro europeu, mas não sabe nada sobre a grandeza da alma de um povo em ebulição, nós, brasileiros); outros, por sua vez, deslumbram-se com os penduricalhos e cacarecos vindos diretamente da bróduêi, produções caríssimas, onde o mérito da montagem está justamente em custar caro. Bosta embalada em caixa de luxo. Temos também aqueles que seguram com unhas e dentes o privilégio(?) do pensamento acadêmico, arvorando-se em raízes coletivas irrigadas com seiva-sangue de cada um de nós e de nossos ancestrais. Você já parou pra pensar sobre isso? Que tempo é esse em nós vivemos? Tempo onde a exploração e o abuso de poder, destroem toda a possibilidade de nos entendermos como ‘nós’ e não como ‘eu’, como ensinam os índios. Talvez esteja aí a raiz da construção do coletivo artístico. A obra de arte cênica é constituída de vários elementos, texto, gesto, luz, música, dança, figurino etc, além da contribuição individual de cada artista envolvido (atores, diretor, iluminador, cenógrafo, dramaturgo, direção de arte etc). Porém, é nítido aos sentidos dos espectadores bem como dos atores, quando uma apresentação não atinge o lugar da obra de arte cênica, lugar onde o lúdico aliado a reflexão levam artistas e platéia a criarem, juntos, a sensação de um ‘outro’ lugar, de outras possibilidades. Batata. Quando esse ‘outro’ lugar não acontece, quando a obra de arte cênica não captura o peixe dourado na rede tecida em cumplicidade entre atuantes e expectadores... tem mão de alguém desandando o tacho de Yayá. Tem gente sendo canibal, não no sentido Oxalá-Osvaldiano-Pajé-Antropafágico, mas no sentido de fera disfarçada em pele de cordeirinho, pronta pra devorar filhotes, como sempre foi na feitura do Brasil. A elite se fartando, claro que sempre as custas dos filhos da pátria Medéia-mãe gentil...e cagando na seqüência em cima de nossas cabeças. Qual ética que nos serve? A ética construída pelo homem branco, rico, exclusivo e excludente? Essa é a ética que vamos aceitar? Ou quiçá, nesse momento, não se faz o tempo-espaço da construção de um pensamento soberano da nação Brasil e do povo brasileiro. Lição de Darcy Ribeiro: “ O BRASIL TÁ AÍ. VÁ, INVENTE O BRASIL QUE VOCÊ QUER, CONSTRUA O BRASIL, POIS MUITA COISA PRECISA SER FEITA E NÃO HÁ TEMPO A PERDER Tudo está na natureza, encadeado e em movimento. Arte, política e ética, tripé de sustentação para a construção de um caminho para a América Latina. Um caminho, um atalho, uma saída digna, criativa e próspera que se faça presente no aqui e agora. País do futuro? Não. Obrigado. País do presente, agora e aqui. Se não meu irmão, não tem jeito. A alternativa é atuar, dentro e principalmente fora de cena. Atuar fora de cena, fazer de nossas vidas nossa própria obra, atuar coletivamente. Atuação política, porque se não, alguém vai atuar por nós. E como homem de teatro, uma coisa eu posso garantir: quando falamos em nome do coletivo, nosso discurso ganha força e eficácia, espécie de força e delicadeza que reside na lâmina da espada do samurai. Construir o coletivo. Esse é nosso desafio enquanto artistas e principalmente enquanto povo. Povo brasileiro. Oxalá Deus queira!

Eduardo Bento
Cia. Teatro São Gonçalo

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Eu quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa está por dentro
ou está por fora

quem está por fora
não segura um olhar que demora
de dentro de meu centro
este poema me olha

P.L.
Apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois de mim
de nós
de tudo
não reste mais que o charme.

P.Leminsk

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

o sol
entrou pela cozinha
calmamente conversamos durante a tarde,
depois, me deixou no paço,
antes de cumprir sua agenda do outro lado do mundo.
Fazer parte de um coletivo artístico com processo de pesquisa de linguagem continuada. Ter condições adequadas de trabalho, estudo e manutenção da saúde (individual e coletiva), espaço pra ensaio, livros e tudo mais. Construir o coletivo através do fortalecimento do indivíduo e paralelamente, plasmar condições adequadas de trabalho, cavar com as mãos o direito de existir dentro do sistema massificante, que dilacera sem perdão, sem escrúpulo, que te proporciona sempre a metade, nunca o inteiro e não te dá outra opção, ou vc aceita ou então a guilhotina? Qual a opção? Cuidar do próprio ouro, ter consciência de ser agente transformador, ser atuante além, muito além da cena, transbordar esferas e abrir seara.
Interferir de forma eficaz na estrutura pública, visando a construção de caminhos estruturantes do pensamento estético gerado no tempo-espaço-aqui-agora. E, aliás, é hora disso.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Pensar o Brasil, nossa formação, nossa configuração enquanto nação, o processo de fazimento do povo, até chegarmos a essa população, que na sua maioria, vive com a sensação de estar em exílio dentro do próprio país. No Brasil tem-se a impressão de que tudo está bem, mas basta um olhar mas amplo sobre o país, e descobrimos que estamos em cima de uma bomba, pior, não longe de explodir. Em Bagdá, ontem, 13 de agosto, morreram 18 pessoas; no Brasil, já há muito tempo, o número de mortes por violência é de 200 POR DIA. Mas a guerra é lá. Enquanto isso, nossa pátria mãe gentil continua isoladona lá no Planalto, longe, pra lá do cerrado, deitada em berço esplêndido, e nós aqui pagando a conta dessa elite deslumbrada, embonecada, e burra, egoísta, corrupta, sem o menor escrúpulo, querendo sim secar as tetas, rasgar a carne e sorver a té a última gota de sangue do povo sem destino, sem futuro, despossuído de direitos, que formam a imensa massa dos estádios, das loterias, dos trens, das lotações. E assim estamos nós aqui, séc. XXI...a criança morrendo de fome no morro, o Dantas volta pra Ipanema, e tudo continua como antes, nesse nosso museu de grandes novidades, certo Cajú?!, e assim a gente vai caminhando...pra onde extamente, não sabemos. depois volto a pensar sobre isso, agora vou ensaiar. Merda!!!

domingo, 10 de agosto de 2008

...que alívio
enfim o
lenitivo

sábado, 9 de agosto de 2008

O espaço contido dentro do nada,
o pensamento capturado na força do acaso,
vazio grávido


meia cura
se(m) cura
te(m) cura


Dor
de herói
não dói
(a partir da observação das margens)