segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Diário de ritos Nutaan 2010

Largo lago de Memória
A Nau Nutaan volta no tempo e atraca no obelisco/falo. Tripulação desembarca pra um mergulho na fonte seca urbana molhada da lavagem. Lágrimas D’Oxun. Espaço passagem, paisagem concreta de ondas urbanas debaixo de uma grande copa de árvore. O rito vai começar. Zerar, coração, leão, no ritmo do mar, e o corpo começa a formigar, como se uma onda de pequenos choques percorresse meu corpo, e o espaço começa a dançar, levando os corpos atados pra lá e pra cá, como um imã entre aqui e o lá.
O lago transborda...
...e como é o mesmo rio, mas, não é o mesmo rio, a correnteza desce por onde soterrado mora Anhangá e a Nau zarpa na rota do chá preparado por mão de branca e preta velha lá do outro lado do rio, que vai lavar levar seus medos, e diluir pesadelos, navegar, nadar em águas límpidas e beber água da fonte.
E que a água lave nossas almas
E regue nossos corpos
E transforme tudo em flor
Em dança de xamãs
Em vagalumesca luz
Em centelhas luzidias
E a serpente engole o rabo
Elo feito, elo dançado
Elo fio vermelho traçado
Silêncio...
Murmúrio
Voz trancada
Ordeno-te
Acorda e bota a boca no trombone
balança o vestido
Grita até acordar e abrir o olho da menina morta
Que esperava pacientemente a Nau passar
E embarcar junto com ancestrais que brotavam do largo Bento
Com fome
Com frio
E (des)construindo universos
A serpente troca de pele
Na cara de Anhagá
Baú de acorde dissonante
Construtores curandeiros tocam com concreto
Música de lavar
Levar a praça concreto
O excesso
Consumir o corpo
Servi-lo num banquete a céu concreto aberto
Prato pão
Feito cão
Comê-lo-ão
Camaleão urbano
Via veias de luz vermelha
Nas entranhas
Sino surreal outro tempo
Outro corpo
E a Nau atraca no domingo monumental
Dando bandeira na praça bola olho central
Pedra Brecheret coberta de carne e barro
Barco empurrado pra dentro da mata
Atraca em tronco ventre e gesta outra cabeça
Cabelo deixado pra trás e banho tomado na boca do lago
Do outro lado homem enfaixado
De paletó
E peito pesado
Deixa na dança a placa âncora
Expectativa (re)passada
Corpo sopro
Sol da tarde
Debaixo da abóbada verde das copas
Catedral kata na mata
Sal na pele gelatinosa
Derrete o passado e dá luz um inteiro
Una
Embate entre a cidade e a delicadeza
Na rampa de acesso à praça sem árvore
O eu e o outro
Corpo pichado, violentado, trêmulo
B(r)usca força se pintando pra guerra
À guerra dos avessos foi um pulo
E do avesso quase esquina da Ipiranga
E São João
Para meu coração corpo sem eu
Corpo teu
Corpo fel
Corpo foda
Corpo pista
De dança
SansaraSexTour no trópico fel(iz)
Direto pra Luz
Bola branca de ano luz
Coreto ocupado e pedaços do outro no chão da
Luz
Sangue bacante de imensa luz
Grandes lábios dão à luz
Sou sã
Cedo seio
Anseia seres quem és?
Seres coro de luz vermelha
Último banho
Nau de luz no lago
Cabelo lavado
Espaço ocupado
Ritos, mitos, ditos, gritos, riscos
De luz

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